14.09.21

Sobrepeso, obesidade e câncer: “temos que encarar o excesso de peso com mais seriedade”

"Não é simplesmente uma questão estética; é uma condição que está relacionada às principais causas de morte, como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer"

Artigo

Por Dr Carlos Bastian *


A prevalência do excesso de peso tem aumentado significativamente nas últimas décadas no Brasil. Em 2019, mais da metade da população brasileira adulta (55.4% da população, para ser mais exato) já tinha excesso de peso (1). E não é de hoje que sabemos que o excesso de peso é um fator de risco bem estabelecido para vários tipos de câncer (1–4). Há fortes evidências de que a obesidade esteja relacionada a pelo menos 13 tipos de câncer. Veja a lista abaixo:

  1. Mama
  2. Cólon (intestino grosso)
  3. Endométrio
  4. Ovário
  5. Adenocarcinoma de esôfago
  6. Cárdia (parte superior do estômago)
  7. Mieloma múltiplo
  8. Pâncreas
  9. Fígado
  10. Vesícula biliar
  11. Tireóide
  12. Meningeoma
  13. Rim

E o pior é que as projeções indicam que o número de casos de câncer atribuídos ao excesso de peso irão dobrar até 2025 (1). Em 2018, o governo federal gastou cerca de 1.7 bilhões de dólares para tratamento de pacientes com câncer. Parte considerável deste valor foram gastos com tumores relacionados a obesidade. O câncer é uma doença muito prevalente e com um alto fardo econômico direto (pelos tratamentos médicos complexos e de alto custo) e indiretos (pela diminuição da produtividade e mortes prematuras).

Mas por que a obesidade está relacionada ao câncer? Um dos motivos é que grande parte dos pacientes obesos tem resistência a insulina. E como suas células se tornaram resistentes à ação deste hormônio, o pâncreas acaba produzindo mais insulina. Esse excesso de insulina circulante pode favorecer o surgimento de neoplasias, uma vez que a insulina estimula proliferação celular (2,5,6). A outra questão é que a obesidade é um estado de inflamação crônica subclínica. Ou seja: pacientes com excesso de peso estão sempre “um pouco” inflamados.

Vários outros estados de inflamação crônica estão relacionados a outros tipos de câncer. Podemos citar, como exemplo, a infecção crônica pela bactéria H. pylori e o câncer de estômago; infecção pelo vírus da hepatite B e C e o câncer de fígado; infecção por HPV e câncer de colo de útero… O estado de inflamação crônica provocado pela obesidade cria o ambiente favorável para o surgimento e o desenvolvimento do câncer (2).

Assim, temos que encarar problemas de excesso de peso com mais seriedade! Não é simplesmente uma questão estética; é uma condição que está relacionada às principais causas de morte, como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer! E com um custo econômico bilionário.


Leia também: Obesidade e câncer: duas grandes epidemias

Referências bibliográficas:

1.             da Silva RCF, Bahia LR, da Rosa MQM, Malhão TA, de Paula Mendonça E, dos Santos Rosa R, et al. Costs of cancer attributable to excess body weight in the Brazilian public health system in 2018. PLoS One. 2021;16(3 March):1–11.

2.             Iyengar NM, Gucalp A, Dannenberg AJ, Hudis CA. Obesity and Cancer Mechanisms: Tumor Microenvironment and Inflammation. J Clin Oncol. 10 de dezembro de 2016;34(35).

3.             Arnold M, Jiang L, Stefanick ML, Johnson KC, Lane DS, LeBlanc ES, et al. Duration of Adulthood Overweight, Obesity, and Cancer Risk in the Women’s Health Initiative: A Longitudinal Study from the United States. PLoS Med. 2016;13(8):1–16.

4.             Guh DP, Zhang W, Bansback N, Amarsi Z, Birmingham CL, Anis AH. The incidence of co-morbidities related to obesity and overweight: A systematic review and meta-analysis. 2009; Available at: http://www.biomedcentral.com/1471-2458/9/88

5.             Zhang AMY, Wellberg EA, Kopp JL, Johnson JD. Hyperinsulinemia in obesity, inflammation, and cancer. Diabetes Metab J. 2021;45(3):285–311.

6.             Kolb R, Sutterwala FS, Zhang W. Obesity and cancer: inflammation bridges the two. Curr Opin Pharmacol. agosto de 2016;29.

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Dr. Carlos Bastian

Médico e Cirurgião do Aparelho Digestivo


Carlos Bastian é cirurgião do aparelho digestivo, chefe de serviço de Endoscopia do Hospital Celso Ramos e também integra o corpo clínico do Checkup Executivo Baía Sul, do Hospital SOS Cardio e da Ultralitho Centro Médico. É especialista em prática clínica Low Carb High Fat / Keto pela Noakes Foundation (África do Sul).

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