02.03.21
“Há pelo menos 13 tipos de câncer que andam de mãos dadas com a obesidade”
Por Dr Carlos Bastian
A obesidade afeta atualmente cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. De 1975 para cá, o número de obesos praticamente triplicou em todo o mundo. E no Brasil não é diferente: na última década, o número de obesos cresceu cerca de 70%, sendo que hoje praticamente um em cada cinco brasileiros é obeso.
Hoje sabemos que a obesidade não é simplesmente um problema estético; está associada a inflamação crônica e diversas doenças crônicas. O tecido adiposo é ativo do ponto de vista hormonal e produz uma série de proteínas inflamatórias que levam a essa inflamação crônica.
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que a obesidade está intimamente ligada a vários tipos de câncer. Há pelo menos 13 tipos de câncer que andam de mãos dadas com a obesidade: mama, endométrio, intestino, fígado, esôfago, rim, pâncreas, tireoide, estômago (cardia), meningeoma, mieloma múltiplo, ovário e vesícula e vias biliares. Portanto, não é espanto nenhum que vários desses tumores tenham se tornado cada vez mais frequentes.
Câncer de intestino, por exemplo, tem aumentado na população mais jovem. Você sabe qual a faixa etária na qual a obesidade mais cresceu, segundo os últimos dados brasileiros? Entre 25 e 35 anos… não é mera coincidência! Existem estimativas de que em 2030 o câncer de pâncreas será a segunda causa de morte relacionada ao câncer (hoje já é a terceira). Duas situações que estão intimamente associadas ao câncer de pâncreas: obesidade e diabetes, duas condições que cresceram de maneira absurda na ultima década. Também não é mera obra do acaso.
Os mecanismos envolvidos nesse processo estão relacionados aos níveis cronicamente elevados de insulina, com consequente desenvolvimento de resistência à insulina. Além disso, a inflamação do tecido adiposo pode ser um processo-chave pelo qual a obesidade promove o câncer. Isto cria um microambiente favorável para o desenvolvimento, crescimento e progressão do câncer.
Há tempos sabemos que a inflamação crônica pode levar ao câncer. Veja os exemplos do câncer de estômago, normalmente provocado pela infecção crônica pelo H. pylori, levando a quadros de gastrites crônicas (inflamação crônica do estômago) e, consequentemente, aumentando a probabilidade do surgimento deste tipo de tumor. Ou então, nos casos das hepatites virais, com agressão contínua ao fígado, que acaba culminando na fibrose, cirrose e posteriormente câncer de fígado.
No caso da obesidade, o próprio tecido adiposo, sendo um órgão endócrino dinâmico, acaba produzindo uma série de proteínas inflamatórias (chamadas de adipocinas), que acabam criando o ambiente favorável ao desenvolvimento dessa doença.
Assim, não é de se espantar que nos últimos anos tenham surgido trabalhos demonstrando os benefícios da perda de peso como adjuvantes aos tratamentos convencionais para o câncer. E, é claro, muitos trabalhos demonstrando benefícios com dietas com restrição de carboidratos, como as dietas cetogênicas. Um dos maiores benefícios em adotar este tipo de estratégia está na redução dos marcadores inflamatórios, níveis de insulina, melhora na sensibilidade à insulina e redução dos níveis de glicose. Sem falar dos diversos ensaios clínicos randomizados demonstrando os benefícios desta estratégia em termos de perda de peso. Está esperando o que para começar?
Referências:
Por
Dr. Carlos Bastian
Médico e Cirurgião do Aparelho Digestivo
Carlos Bastian é cirurgião do aparelho digestivo, chefe de serviço de Endoscopia do Hospital Celso Ramos e também integra o corpo clínico do Checkup Executivo Baía Sul, do Hospital SOS Cardio e da Ultralitho Centro Médico. É especialista em prática clínica Low Carb High Fat / Keto pela Noakes Foundation (África do Sul).