03.02.21
Por Dr Carlos Bastian
O que as três condições têm em comum? Em muitas situações, podemos considerar que se trata da mesma doença, em estágios diferentes de evolução.
O termo síndrome metabólica (SM) descreve um conjunto de fatores de risco metabólico que se manifestam num indivíduo e aumentam as chances de desenvolver doenças cardíacas, derrames, diabetes e até mesmo câncer.
A SM tem como base à resistência à ação da insulina. Isto é: as células e tecidos se tornaram resistentes à insulina, fazendo com que este hormônio não aja de forma adequada, obrigando o pâncreas a produzir mais insulina. Isto acaba gerando um estado de hiperinsulinemia sustentada.
1. Obesidade visceral (estimado pela circunferência abdominal, > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres);
2. HDL baixo (< 40 mg/dl para homens e < 50 mg/dl para mulheres);
3. TG > 150 mg/dl;
4. Hipertensão arterial sistêmica;
5. Glicemia de jejum > 100 mg/dl
Se você tem pelo menos três destes cinco critérios, você tem diagnóstico de síndrome metabólica. Isto significa que o seu pâncreas esta produzindo uma quantidade significativamente maior de insulina para manter os níveis de glicose dentro da normalidade.
1. Presença de esteatose hepática (“gordura no fígado”);
2. Presença de acantose nigricans (manchas escurecidas em áreas de dobras, com pescoço e axilas);
3. Mulheres com síndrome dos ovários policísticos;
4. Presença de ácido úrico elevado ou crises de gota.
A obesidade é uma condição que afeta atualmente cerca de 800 milhões de indivíduos no mundo. Desde 1975, a prevalência global da obesidade quase triplicou. No Brasil ela cresceu mais que 70% da última década, sendo que hoje um em cada 5 brasileiros adulto é obeso.
Hoje sabemos que a obesidade é uma condição pró-inflamatória e que esta associada a inúmeras outras condições: hipertensão arterial sistêmica, asma, diabetes mellitus, câncer, doença de Alzheimer, infartos e derrames. Ou seja: as principais causas de morte estão associadas a excesso de peso. Durante muitas décadas temos tratado a obesidade como um problema de desequilíbrio energético entre calorias consumidas e calorias gastas. Porém, nos últimos anos a teoria hormonal da obesidade vem ganhando força. E qual o principal hormônio envolvido com esta condição? Insulina!
A prevalência global de diabetes atingiu 9,3% (uma em cada onze pessoas no mundo tem diabetes!), com mais da metade (50,1%) dos casos adultos não diagnosticados. Quando consideramos pessoas acima de 65 anos, um em cada cinco indivíduos tem diabetes! De 1980 para cá, o numero de diabéticos quadruplicou em todo o mundo! Em apenas uma geração, o diabetes deixou de ser uma raridade para se tornar uma epidemia! E as estimativas é que estes números aumentem ainda mais nas próximas décadas. No ano de 2019, o diabetes foi responsável por cerca de 760 bilhões de gastos com saúde (isto corresponde a 10% do gasto mundial com saúde!).
É a elevação crônica da glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia. E por que isto ocorre nos pacientes diabéticos tipo 2? Basicamente, porque a insulina não consegue exercer a sua função de estimular a captação de glicose pelas células, pois estas se tornaram resistentes à sua ação.
Portanto, o que as três condições têm em comum? A hiperinsulinemia sustentada e o desenvolvimento de resistência à insulina. Em muitas situações, podemos considerar que se trata da mesma doença, em estágios diferentes de evolução. Assim, não nos surpreende que podemos tratar as três condições com uma abordagem similar. A maioria dos profissionais de saúde considera o diabetes uma doença crônica e progressiva. Infelizmente, ela tem esse desfecho da maneira que é abordada atualmente. Porém, isto não é verdade: na maior parte das vezes a reversão é possível!
Por
Dr. Carlos Bastian
Médico e Cirurgião do Aparelho Digestivo
Carlos Bastian é cirurgião do aparelho digestivo, chefe de serviço de Endoscopia do Hospital Celso Ramos e também integra o corpo clínico do Checkup Executivo Baía Sul, do Hospital SOS Cardio e da Ultralitho Centro Médico. É especialista em prática clínica Low Carb High Fat / Keto pela Noakes Foundation (África do Sul).