17.07.20
Por Dr Carlos Bastian
O jejum é a abstinência voluntária da alimentação, por razões espirituais, médicas ou outros motivos. A comida está prontamente disponível, mas você opta por não comer. Há uma grande diferença entre passar fome e jejuar; basicamente, porque o segundo ato é voluntário. Tecnicamente, todos nós jejuamos. O período entre uma alimentação e outra é considerado jejum. Portanto, fizemos isso diversas vezes ao longo do nosso dia e das nossas vidas.
Do ponto de vista evolutivo, a espécie humana passou por mais períodos de escassez do que de abundância de alimentos. A fome faz parte da nossa evolução. A medida que as sociedades foram desenvolvendo a agricultura estes períodos de fome foram gradualmente sendo reduzidos e, eventualmente, eliminados. No entanto, muitos povos antigos já sabiam dos benefícios do jejum. Jejuar é uma tradição antiga!
O jejum se desenvolveu através das diferentes culturas e religiões não como uma coisa perigosa, mas sim como algo profundamente benéfico para o corpo e a alma. Os gregos acreditavam que jejuar aumentava suas capacidades cognitivas e mentais. E isto é um fato: após refeições copiosas, uma grande quantidade de sangue é desviada para seu trato digestivo, deixando menor fluxo de sangue para o cérebro, gerando sonolência e torpor. Quando se está em jejum, nossos sentidos de alerta e foco mental naturalmente aumentam.
O jejum começa a aparecer na literatura médica no início do século XX. Porém, nesta época, obesidade e diabetes não eram condições que causavam preocupação.
Estudos em animais e em humanos têm demonstrado que muitos dos benefícios do jejum intermitente não são simplesmente do resultado da redução dos danos provocados pelos radicais livres ou perda de peso. O jejum melhora a regulação da glicose, a resistência insulínica, a resistência ao stress e suprime a inflamação. Durante o jejum, as células ativam caminhos que melhoram as defesas intrínsecas contra o stress oxidativo e metabólico, e aqueles caminhos que removem ou reparam moléculas danificadas.
Durante o jejum, os ácidos graxos e glicerol são convertidos no fígado em corpos cetônicos. Estes, além de serem usados como fonte de energia, são potentes moléculas sinalizadoras com efeitos nas funções orgânicas e celulares, influenciando a saúde e o envelhecimento.
A exposição repetida a períodos de jejum resulta em respostas adaptativas duradouras que conferem resistência aos desafios subsequentes.
Ao contrário de hoje, nossos ancestrais não comiam regularmente três ou mais refeições ao dia. Passar por períodos prolongados de jejum fez parte de nossa evolução como espécie.
Alguns estudos sobre o efeito da restrição calórica e jejum em animais têm demonstrado aumento da expectativa de vida naqueles submetidos a intervenção. Apesar de não haver estudos consistentes em humanos que cheguem a esta conclusão, sabe-se que o jejum intermitente melhora a resistência insulínica, a obesidade, a dislipidemia, a hipertensão e a inflamação. Portanto, há uma melhora metabólica global. Em animais e seres humanos é demonstrado que períodos de jejum melhoram a capacidade física, uma vez que intensificam a perda de gordura. A elevação dos níveis de hormônio do crescimento durante o jejum preservam a massa magra.
Além disso, já existem alguns estudos em humanos mostrando melhora na capacidade cognitiva e de memória em idosos submetidos a restrição calórica e jejum.
Por
Dr. Carlos Bastian
Médico e Cirurgião do Aparelho Digestivo
Carlos Bastian é cirurgião do aparelho digestivo, chefe de serviço de Endoscopia do Hospital Celso Ramos e também integra o corpo clínico do Checkup Executivo Baía Sul, do Hospital SOS Cardio e da Ultralitho Centro Médico. É especialista em prática clínica Low Carb High Fat / Keto pela Noakes Foundation (África do Sul).