30.08.21

Dia do Nutricionista: diretrizes defasadas e desatualização de parte da classe acadêmica comprometem a credibilidade e relevância da profissão?

Notícia

Nesta terça-feira (31/08) comemora-se o Dia do Nutricionista. A data foi criada em 1949 pela Associação Brasileira de Nutricionistas, atualmente Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN), mas a profissão só foi regulamentada em 1967. Desde então, muitos debates envolvem as diretrizes aplicadas nas universidades e também nos consultórios – muitas ainda embasadas em uma pirâmide alimentar estabelecida na década de 70.

O nutricionista auxilia na conquista de uma melhor qualidade de vida através do pilar da alimentação. Para isto, é necessário além da formação acadêmica uma atualização constante, para que se tenha o devido respaldo de evidências científicas que acompanhem as necessidades reais do corpo humano e seu pleno funcionamento.

Abrangendo a atuação das universidades nas formações de futuros profissionais, existem apontamentos a respeito de diretrizes dietéticas defasadas e como isto afeta a atuação de nutricionistas no mercado e até mesmo a reputação dos profissionais da área.

Ouvimos duas nutricionistas e um acadêmico de Nutrição, que opinaram sobre a desatualização das diretrizes dietéticas, mitos da Nutrição e aconselharam os futuros profissionais da área.

Para Mari Abreu, nutricionista com prática clínica nas dietas Paleo e Low Carb, de Florianópolis, “há mais de quarenta anos foram adotadas recomendações que, ao contrário do pretendido, diminuíram a saúde da população”.

Apesar de grande parte dessas instruções perdurarem até hoje, ela acredita que as mudanças virão. “As diretrizes nutricionais do Ministério da Saúde de 2014 já apresentaram avanços consideráveis ao condenar os alimentos ultraprocessados e recomendar o que chamamos de ‘comida de verdade’. Ainda existem muitos pontos a serem melhorados; à medida em que forem renovando o quadro dos professores, os antigos forem se aposentando, novos virão, com motivação suficiente para rever suas bases e buscar o alinhamento com os últimos avanços da ciência. Até lá, o caminho será difícil”, aponta.

O acadêmico de Nutrição Leonardo Simões, de Blumenau, pontua que “a maioria dos congressos e pesquisas de Nutrição são pagas e financiadas pela indústria alimentícia”. Em função disso, para ele, uma mudança significativa só ocorrerá quando pessoas com ética e caráter assumirem estes postos.

Para a nutricionista comportamental e diretora científica de nutrição da Associação Brasileira LowCarb (ABLC), Patrícia Ayres, é necessário que os estudantes também saibam respeitar o conhecimento de seus professores. “Eu acredito que precisa se fazer diferença de outra forma, não necessariamente protestando, contestando. E, nas matérias base não há o que se contestar”, acredita Paty.

MITOS DA NUTRIÇÃO

A respeito dos mitos estabelecidos sobre o que de fato é uma alimentação saudável, enraizados em nossa sociedade ocidental e praticamente unanimidade na mídia tradicional, os entrevistados compartilham suas visões:

Mari Abreu diz que entre os maiores mitos ainda repetidos até mesmo em consultório estão a questão da frequência alimentar e o medo da gordura – principalmente a gordura de origem animal,  tida como vilã na alimentação ocidental sem nenhuma comprovação científica. “É incalculável o prejuízo financeiro e à qualidade de vida da população mundial que resultou da substituição das gorduras naturais por gorduras hidrogenadas de origem vegetal e por carboidratos como substituto energético”. Por último, a rejeição dos perigos do consumo de açúcares e carboidratos refinados de forma geral, que resultam em resistência insulínica, sobrepeso, obesidade e grande maioria das doenças crônicas não transmissíveis.

Léo Simões lembra algumas frases que são repetidamente faladas no senso comum e até por alguns profissionais: “sal faz mal”; “grãos integrais são saudáveis”; “gordura saturada e colesterol entopem as artérias”; “é tudo questão de equilíbrio”; “óleos vegetais são saudáveis”; “o que importa são calorias”. Todas elas, vale frisar, já desmentidas pela saúde baseada em evidências.

Paty Ayres chama a atenção para entender-se a necessidade e até mesmo a opção alimentar de cada um. “Hoje com a questão da nutrição comportamental (…) essas questões de diretrizes ficam em segundo plano, porque no final das contas eu preciso avaliar o que é melhor para o meu paciente”, ressalta a nutricionista de São Paulo.

MENSAGEM PARA OS ESTUDANTES DE NUTRIÇÃO

Aos profissionais em formação, há um consenso entre os entrevistados de que é necessário buscar informação além dos bancos das universidades. Sobre isto, Mari Abreu aconselha a não acreditar em tudo que é dito, mesmo que pareça fazer sentido em um primeiro momento. “A pesquisa em Nutrição é muito difícil, pois são muitos os fatores que influenciam. Todos os estudos de observação ou epidemiológicos podem apenas estabelecer coincidências e eventualmente servir de base para as teses que devem ser confirmadas em ensaios clínicos. O corpo humano é uma máquina fantástica e maravilhosa, e que tudo o que comemos tem impacto nos processos metabólicos que fazem esta máquina funcionar”, finaliza.

A diretora de nutrição da ABLC, Paty, incentiva que os acadêmicos sejam agentes de mudança colaborativos. “Busque estudos, converse com humildade (com o professor); não há lugar para aprendizado onde não existe humildade. Para ser agente de mudança é necessário respeitar também a história do outro”, conclui.

Com tantas mudanças em andamento, paradigmas sendo derrubados a cada dia, tantos entusiastas empenhados em disseminar conhecimento na internet e cada vez mais profissionais da saúde dispostos a buscar informações em múltiplas fontes, acreditamos que o futuro para os nutricionistas será promissor e de grande valorização em nossa sociedade.

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