23.03.20

Alimentação Low Carb – Um pouco da história

Artigo

O primeiro relato da aplicação de uma dieta com baixo teor de carboidratos com o propósito específico de reduzir peso e recuperar a saúde data de 1862, sendo publicada em forma de um livreto, “Letter on Corpulence”. É da autoria de William Bantig, paciente do Dr. William Harvey. Trata-se de um relato honesto e muito interessante de um metódico obeso de meia idade que, após inúmeras tentativas de se livrar de um sobrepeso incapacitante, tem seu problema resolvido e quer incentivar outras pessoas em condições semelhantes a seguir um novo rumo na alimentação. Chamava a gordura corporal de parasita, considerava a obesidade como uma doença e mudou seu modo de vida a partir da adoção da dieta. Morreu aos 81 anos, idade muito avançada para a época.

Entre 1890 e 1900 Wilbur Atwater, um químico agrícola, através do desenvolvimento de um calorímetro respiratório, conseguiu relacionar a energia contida nos alimentos com a forma como o corpo a utiliza; ele é o pai do conceito, ainda válido e não questionado, da caloria dos alimentos. Atwater introduziu também o conceito da taxa metabólica e comprovou que a primeira lei da termodinâmica também vale para os humanos – algo questionado na época, visto que muitos consideravam os humanos seres especiais. Mais que chocou o mundo ao mostrar que somos simples primatas sem pelo. Atwater relatou o peso das calorias como meio de avaliar a eficiência de uma dieta. Estabeleceu que diferentes tipos de alimentos produziam diferentes quantidades de energia. Recomendou a importância da adoção de uma dieta eficiente e barata, que deveria incluir mais proteínas, feijão e vegetais, alimentos associados com micronutrientes, no lugar de carboidratos – alimentos que contribuem somente com calorias.

Nos anos 20, Vilhjalmur Stefansson viveu entre os esquimós no Ártico e constatou que, embora vivessem exclusivamente de carne vermelha, peixe e gordura, permaneciam incrivelmente saudáveis. Liderou uma pesquisa médica rigorosa que confirmou suas observações, publicadas em 1926 no artigo “The effects of an exclusive, long-continually meat diet” no The Journal of American Medical Association. Passou, depois um ano em reclusão voluntária, com acompanhamento médico, comendo somente carne e gordura para provar seu ponto de vista. Concluiu o experimento gozando de plena saúde.

Nos anos 40 o Dr. Alfred Pennington realizou uma série de estudos com empregados da empresa DuPont e, revisando trabalhos realizados por cientistas alemães e austríacos, recomendou a adoção de uma dieta muito semelhante à do Dr. Harvey. Em 1953, 66 anos atrás, publicou um artigo propondo uma dieta sem restrição de calorias, porém com baixo teor de carboidrato: “Treatment of OBESITY with Calorically UNRESTRICTED DIETS” no The American Journal of Clinical Nutrition. Neste trabalho, Pennington afirmava que restrição de carboidratos, isoladamente, parecia tornar possível o tratamento da obesidade em uma dieta sem restrições calóricas, composta principalmente de proteína e gordura. O fator limitante no apetite, necessário para qualquer tratamento da obesidade, parecia ser proporcionado pelo aumento da mobilização e utilização da gordura, em conjunto com as forças homeostáticas que normalmente regulam o apetite. A cetogênese parecia ser um fator-chave no aumento da utilização de gordura. O tratamento da obesidade por este método parecia evitar o declínio no metabolismo encontrado nos tratamentos decorrentes da limitação calórica.

Vários trabalhos científicos corroboraram Pennington, culminando com a publicação em 1958 do livro “Eat fat and grow slim” (Coma gordura e emagreça), escrito pelo Dr. Richard Mackarness. Neste livro, Mackarness propôs a adoção de uma dieta paleolítica, baseada em proteína e gordura. Pode-se dizer que Mackarness foi o criador da Dieta Paleo. Enfrentou muitas críticas de seus pares, por motivos que adiante vamos expor. Entretanto, teve grande reconhecimento pela contribuição que deu ao estudo da intolerância a alimentos como fator alergênico. Estas são as bases das dietas Low Carb. Estas e as avaliações críticas do que a seguir surgiu. Nos anos 50 e 60 um cientista chamado Ancel Keys liderou vários estudos procurando relacionar doenças cardíacas e dieta. Embora sem fundamentos cientificamente consistentes, formulou a hipótese de que a gordura saturada na alimentação causa doenças cardíacas e deve ser evitada. Os estudos de Keys, a forma como foram publicados e a postura política de seu grupo inspiraram a fobia pela gordura, que, inicialmente apoiada por políticos e posteriormente pela burocracia do governo dos Estados Unidos, inspirou recomendações dietéticas que alteraram o modo de se alimentar de toda uma nação e impactaram negativamente o mundo. Estas recomendações, com mais de 40 anos sem maior revisão, são ensinadas em todas as escolas de nutrição do mundo, para profissionais que procuram segui-las em sua prática clínica. Uma vez sedimentados politicamente, os conceitos de Keys passaram a ser senso comum e qualquer tentativa de questioná-los, a partir de então, e até hoje, sempre encontrou grande resistência. A partir das recomendações dietéticas da USDA foi formatada a proposta de uma pirâmide alimentar que recomenda a ingesta de 50 a 55% de carboidrato na dieta e elevou a gordura ao topo da pirâmide. Atualmente, a pirâmide foi abandonada e criada a figura de um prato com sugestão do porcionamento de alimento, onde a gordura nem aparece!

Veja abaixo:

Keys é retratado como uma figura maligna para os que não concordam com sua hipótese, que vem sendo refutada com mais sucesso na medida em que são gerados resultados científicos baseados em evidências, em estudos randomizados, onde é possível serem estabelecidas relações de causa e efeito, diferentemente do que ocorria com Keys, cujas teses tinham por base estudos epidemiológicos. No campo pessoal, entretanto, não se pode negar algum mérito para Keys: Ele mesmo promoveu, mais tarde, a adoção da Dieta Mediterrânea, com teor de gordura acima do recomendado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), entretanto substituindo gordura saturada por óleos vegetais insaturados. Apesar de não considerar os carboidratos como risco à saúde, opunha-se pessoalmente ao uso exagerado do açúcar. Viveu exatos 100 anos, o que ainda hoje é uma façanha, mas não sem antes confessar a colegas que a gordura saturada não era o problema. Apenas não teve a coragem e a hombridade de confessar publicamente.

No final da década de 60, o cardiologista Robert Atkins provou mais uma vez a validade de uma dieta com baixa ingestão de carboidratos e alta ingestão de proteínas e gorduras. Em seu livro publicado em 1972, “A Dieta Revolucionária do Dr. Atkins”, revisado em 1992 como “A Nova Dieta Revolucionária do Dr. Atkins”, afirma que o açúcar é o verdadeiro culpado pela obesidade e pelo surgimento de doenças coronárias e vasculares.

Uma certeza existe: perder peso sem restrição calórica só com dieta Low Carb, se Paleo, se Keto, se carnívora, com jejum ou sem jejum, escolha o que lhe for mais conveniente.

Hoje é sabido que uma dieta com baixo carboidrato e rica em gordura saturada, para pessoas normais, fora do grupo com hipercolesterolemia hereditária, baixa o colesterol LDL, aumenta o colesterol HDL e reduz os triglicerídeos no sangue. Tudo o que os cardiologistas recomendam. O que estamos esperando para adotá-la de forma irrestrita?

Quebrar paradigmas e vencer preconceitos é o problema. Quando você consulta no site americano da Wikipedia o termo “Low Carb Diet”, percebe claramente o “ranço” ainda existente. A baixa ingestão de carboidratos como recomendação dietética é sumariamente condenada por instituições de seriedade questionável, com base em estudos sabidamente tendenciosos e mesmo fraudulentos. Está lá. Confira as referências.

É necessário colocar em pauta a prejudicial e mesmo criminosa influência do interesse financeiro da Industria Farmacêutica na Medicina, assim como da Indústria Alimentícia na Nutrição. Muitas vozes atualmente se levantam contra isso. O Dr. Mark Hyman, que defende que uma mudança radical mas progressiva no sistema alimentar pode ser solução não só para a pandemia de obesidade que hoje vivemos, como também para as mudanças climáticas provocadas pelo homem, afirma com pesar que em cada 10 trabalhos produzidos na área da nutrição, nove são financiados pela indústria alimentícia. Pior, a maioria das associações de profissionais, que deveriam ser isentas de qualquer interesse, a não ser o benefício pública e da classe, aceitam “suborno” do setor industrial. Sem falar dos políticos, com seus escusos esquemas de financiamento de campanha.

Voltando à história: finalmente, trabalhos sérios, independentes, conduzidos com técnicas que possibilitam relacionar causa e efeito, passaram a estar disponíveis, trazendo as tão necessárias evidências científicas. Em 2019, afinal, surgiu uma luz: a American Diabetes Association (ADA) reconheceu a dieta Low Carb como o tratamento de referência para diabetes tipo 2.

É apenas o começo: assim como cientistas de renome como o laureado Linus Pauling, pai da bioquímica, reconheceu o açúcar como o grande vilão da doença cardíaca, convencido por seu antigo desafeto e posteriormente grande amigo John Yudkin, cientista britânico autor do livro “Puro, Branco e Mortal”, muitos cientistas e principalmente profissionais médicos e da nutrição estão aderindo, avaliando e promovendo a dieta Low Carb. O motivo de engordarmos é agora perfeitamente conhecido. Como emagrecer está ao alcance de todos. Sabendo das complicações da obesidade ou mesmo dos males resultantes: pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas, câncer e Alzheimer entre outras, temos a exata noção de como evitá-las. Vislumbra-se, então, a possibilidade de uma vida saudável. O mundo não está perdido, só precisa se alimentar com melhor qualidade!

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