02.10.20

Alimentação low carb e cetogênica e saúde mental

Por Dr. Régis Chachamovich* - Psiquiatra (Florianópolis, SC)

Artigo

As estratégias de alimentação low carb e cetogênica estão ganhando cada vez mais notoriedade, tanto nos meios científico e clínico, quanto entre a população em geral, nos últimos tempos. Esse fenômeno tem várias explicações possíveis, mas talvez a mais provável é que cada vez mais a eficácia dessas abordagens tem ficado clara.

Existem algumas áreas, como o diabetes e a obesidade por exemplo, em que a eficácia dessas abordagens já está consagrada, tanto em pesquisas clínicas com alto grau de evidência científica, quanto na prática dos profissionais que adotam essas estratégias com seus pacientes. Não há mais espaço para discutir se essas estratégias funcionam para essas doenças; a principal discussão deveria ser por que essas não estão entre as principais recomendações dadas de rotina a pessoas com essas condições clínicas – ao menos no Brasil.

Há outras áreas, por outro lado, em que existe uma distância, uma disparidade entre a quantidade e qualidade de evidências científicas existentes e a experiência clínica de muitos profissionais e pacientes com essas abordagens. Não há falta de bases científicas que corroborem e justifiquem o uso de intervenções com dieta low carb ou cetogênica em condições psiquiátricas. Pelo contrário, existem muitas justificativas para o seu uso (em seguida explicarei algumas delas).

O que ainda está por vir são maiores estudos de intervenção, os chamados experimentos, em que se separa aleatoriamente dois grupos de pessoas e, em um grupo se aplica uma intervenção (uma dieta low carb, por exemplo), e no outro grupo uma dieta padrão, e depois de um tempo se mede os resultados.

Existem alguns estudos de intervenção, ainda pequenos, para algumas condições psiquiátricas como esquizofrenia e transtorno do espectro do autismo, por exemplo. Também existem publicações de relatos de casos e séries de casos, além de estudos em animais, tratando do potencial dessas abordagens para outras condições, como depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do humor bipolar e transtorno de compulsão alimentar, por exemplo.

Há duas grandes linhas de pensamento que estão bem estabelecidas no meio científico que justificam o otimismo em relação à aplicação das abordagens low carb e cetogênica na saúde mental. A primeira dessas linhas de pensamento diz respeito ao fato de que boa parte dos remédios que fazem parte do arsenal disponível atualmente para uso psiquiátrico são, primariamente, anticonvulsivantes; ou seja, remédios para tratamento de epilepsia.

O uso da dieta cetogênica para tratamento de epilepsia está muito bem embasado histórica e cientificamente. Grande parte das pessoas com epilepsia refratária que não tiveram boa resposta com diferentes anticonvulsivantes respondem bem com a adoção de uma dieta cetogênica. Ora, se boa parte dos remédios que usamos em psiquiatria são remédios para epilepsia, e sabemos que a dieta cetogênica é altamente eficaz para essa condição, é mais do que razoável pensar que será também eficaz para tratar condições psiquiátricas.

A segunda grande justificativa diz respeito aos mecanismos que estão na base dos transtornos psiquiátricos. Há cada vez mais evidências de que há quatro principais mecanismos por trás desses transtornos. São eles: 1) problemas no metabolismo da glicose em nível cerebral, com dificuldade do cérebro em obter energia; 2) inflamação crônica; 3) o chamado estresse oxidativo; e 4) desregulação de neurotransmissores. Não irei abordar com mais detalhes cada um destes mecanismos; é importante saber apenas que uma dieta cetogênica é comprovadamente capaz de melhorar cada uma destas alterações. Temos aqui mais motivos, do ponto de vista científico, para pensar que abordagens low carb/cetogênica podem ser eficazes em condições psiquiátricas.

Quando vamos para o campo das experiências práticas, os dados são abundantes. À medida que mais médicos clínicos vêm prescrevendo dietas low carb e cetogênica para seus pacientes pelos mais variados motivos, crescem exponencialmente os relatos de pacientes que, após aderirem a essas dietas, viram condições como depressão, ansiedade, instabilidade de humor, irritabilidade, transtorno de estresse pós-traumático (entre outras) melhorarem e, por vezes, entrarem em remissão.

Embora a aplicação dessas abordagens por profissionais de saúde mental no Brasil esteja engatinhando, em alguns países há psiquiatras que usam essa ferramenta há muitos anos, com ótimos resultados. Evidentemente, não são todas as pessoas que têm resultados excelentes, e ainda não temos como saber para quais pessoas os resultados serão melhores, e nem o grau de restrição de carboidratos necessária para cada pessoa. O que podemos dizer com clareza é que estas são abordagens seguras e certamente benéficas para condições muito prevalentes como diabetes, pré-diabetes, obesidade/sobrepeso, pressão alta, e que pessoas com qualquer dessas condições associadas a distúrbios psíquicos são ótimos candidatos a uma abordagem de restrição de carboidratos (low carb ou Cetogênica).

Mais ainda, podemos dizer que, por serem estilos de alimentação virtualmente sem riscos, mesmo pessoas metabolicamente saudáveis podem lançar mão dessas ferramentas como parte de seus tratamentos psicológicos/psiquiátricos. Cabe a ressalva de que, idealmente, isso deve ser feito com o acompanhamento de profissionais de saúde mental com conhecimento e experiência com esses estilos de alimentação.

Em resumo, podemos dizer que, embora ainda não haja grandes estudos de experimentos para o uso de dieta low carb e cetogênica em condições psiquiátricas, há um conjunto de estudos em modelos animais, estudos de mecanismos e alguns estudos de intervenções que, combinados com a crescente onda de experiências positivas de profissionais de saúde e pacientes, corrobora a prescrição de dietas de restrição de carboidratos no amplo campo da saúde mental.

Por Dr. Régis Chachamovich* – @dr_regis_chachamovich

* Dr Régis Chachamovich é psiquiatra/psicoterapeuta em Florianópolis (SC), atua na área de Psiquiatra Nutricional e com prática clínica na Estratégia Lowcarb/Cetogênica para doenças metabólicas. Artigo escrito com exclusividade para o Brasil Low Carb.

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